quarta-feira, 24 de março de 2010

Um Rei chamado CHICO! ( 2ª Parte)


Os dois juntos trabalhavam por um propósito:
alforriar um por um os demais escravos sem levar em conta a que nação pertencia, o que a custo conseguiriam realizar.
Juntos conseguiram acumular uma pequena fortuna e comprar a Encardideira, mina do antigo arraial Antônio Dias, vizinho de Vila Rica. Como esta mina estava desativada, já tendo sido explorada sem sucesso por vários outros garimpeiros, os negros questionaram junto a Chico Rei tal aquisição. Refutavam a compra da Encardideira sob o argumento de que estavam jogando fora todo ouro que já haviam conseguido em um buraco improfícuo. Era insensatez. Alforriados e sem posses, como haveriam de viver?
-Eles vão jogar fora o que conseguiram com muito sacrifício, não terão como viver depois!- indignavam-se os escravos.
Mas Chico Rei e os alforriados seguiram em frente. Compraram a mina e iniciaram de imediato o garimpo. Agora que eram livres, ocupavam-se unicamente de cavar a mina, dia e noite, sem desistir ou desanimar. Passou-se o tempo e começaram a surgir pepitas e mais pepitas de ouro no fundo da Encardideira. E eles, em febre, cada um com a sua bateia, colhiam o tesouro inesgotável que haviam encontrado. Enfim, o ouro.
Francisco, agora próspero, empreendeu a construção da igreja do Rosário e de Santa Efigênia. É interessante perceber que aquele que o estimulava era uma causa religiosa e não política. Tinha grande amor por Santa Efigênia, personagem de uma África cristã, e por Nossa Senhora do Rosário, protetora dos negros. Há quem diga que na construção desses templos, que representavam poder, pode estar uma das sementes da libertação dos escravos. Enquanto o ouro brotava das águas do rio, os negros se enriqueciam de posses, comprando casas dignas, móveis luxuosos, roupas caras e carruagens. Encomendavam sedas e outros tecidos de igual pompa.
Chico Rei contratou artistas renomados para talhar as igrejas, seus altares e capela-mor. Foram utilizados nessa construção os mais nobres materiais, como mármores de Carrara, madeira de lei, ouro. Santeiros da capital esculpiram estátuas de santo e o nicho em homenagem à santa foi esculpido por Aleijadinho, alcunha de Manuel Francisco Lisboa.
As negras traziam ouro em pó escondido debaixo das unhas, da pele e no cabelo para oferecê-lo a Santa, contribuindo, assim, para a construção do templo. Conta-se que se ajoelhavam na igreja abaixavam a cabeça em cumprimento a Chico Rei, que, sentado num trono, lavava aquelas cabeças, retirando o ouro dos cabelos. Aquele ouro seria usado para dourar os altares e objetos sagrados.
Essa igreja é também chamada Igreja Nossa Senhora do Rosário os Homens Pretos e se situa no Alto da Cruz do Padre Faria. Também a outra Igreja, de Santa Efigênia, construída em Vila Rica, atual Ouro Preto, perdurou até nossos dias, podendo ser visitada em todo seu esplendor. Da Encardideira podem ser vistas suas ruínas.
Igreja e lavra são as testemunhas silenciosas de uma época e de uma história.
Stella Leonardos, apoiada nas pesquisas de Aires da Mata Machado Filho, nos dá os títulos de Chico Rei:
Manicongo, por graças de Deus,
Rei do Congo, de Angola, Macamba,
de Ocanga, Camba, de Lula e Zuza,
Duque de Buta, de Suda e Bamba,
Senhor de Amboíla e suas províncias,
Conde de Sonho, Angola e Cacongo,
Reinando em reino dos Ambondaras
e a maravilha do rio Zaire.

0 comentários:

Postar um comentário

Tamu Juntu !!!